“Manifestou os seus caminhos a Moisés e os seus feitos aos filhos de Israel.” – Salmos 103.7
Na história do povo de Deus, encontramos duas classes de pessoas: aquelas que somente conhecem os feitos de Deus e aquelas que, além disso, conhecem Seus caminhos.
Seus feitos revelam Seu poder, mas Seus caminhos revelam Sua intimidade.
Os feitos de Deus têm como objetivo nos levar a conhecer Seu poder e soberania, mas Seus caminhos são meios para revelar Seus segredos e conduzir-nos ao Seu propósito mais elevado.
Conhecer apenas Seus feitos significa ficar na periferia do Seu chamamento, sem conhecer o propósito para o qual fomos chamados.
O grande perigo está em querermos egoisticamente desfrutar de Seu poder, de Suas bênçãos, não buscando conhecer Seus caminhos e cooperar com Seu propósito.
A multidão conhecia Suas obras, mas não Sua pessoa. Conhecia Seu poder, mas não se submetia a Sua soberania. Olhava para os milagres, mas recusava Sua disciplina.
Portanto, não se iluda com o glamour da multidão.
A indignação de Deus derramou-se sobre aqueles que, apesar de desfrutarem de Seus feitos, Suas bênçãos e milagres, “… sempre erram no coração… também não conheceram os meus caminhos” (Hebreus 3.10).
No deserto, caíram milhares daqueles que, embora conhecendo os feitos de Deus, insistiram em andar em seus próprios caminhos e eram rebeldes quanto a seguir o caminho do Senhor.
O coração da multidão sempre estava ocupado com coisas exteriores, terrenas, não com Deus e as coisas celestiais, com o testemunho de Deus.
“Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos” (1 Coríntios 10.11).
Em todo o tempo, sempre há essas duas classes de pessoas entre o povo de Deus: as terrenas e as celestiais. Com o que seu coração está ocupado? Que tipo de pessoa é você?
A lamentação de Jesus
Um dos maiores exemplos de desvio dos caminhos do Senhor é manifestado por meio das palavras conclusivas de Jesus no final do seu ministério:
“Quando [Jesus] ia chegando, vendo a cidade, chorou e dizia: Ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos” (Lucas 19.41-42).
Apesar de Deus ter trabalhado com Seu povo por cerca de 1.600 anos, preparando-o para a vinda do Messias, ele não compreendeu nem Seu propósito nem Sua maneira de agir.
Deus operou entre eles muitos sinais, milagres e prodígios, todos servindo de “bengala” para ajudá-los a andar em Seus caminhos; entretanto, apegaram-se aos milagres, e não ao Senhor.
Em tudo isso aprendemos que, quando nosso foco for bênçãos e prosperidade terrenas, isso gera um véu que nos cega para as riquezas celestiais. Passamos a olhar para baixo, e não para o alto.
A geração no tempo de Jesus repetiu os erros da geração no tempo de Moisés: ela conheceu Suas obras, mas não Seus caminhos. Ouviu Suas palavras, mas não conheceu Seus segredos.
Não há como deixar de perceber no desabafo de Jesus as lágrimas que vazavam de Seu coração dilacerado pelos golpes de desprezo do Seu povo:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mateus 23.37).
Um dos sinais de uma geração apostatada é que ela evita os profetas que condenam seus desvios dos caminhos de Deus.
E hoje, em que cenário estamos vivendo? A que voz estamos ouvindo?
Quando milagres e bençãos substituem Deus
Os milagres, muitas vezes, não representam a aprovação de Deus, mas sim Sua última instância de advertência, operando no mundo físico para chamar a atenção do Seu povo quanto às realidades do mundo espiritual.
A história nos mostra que as bênçãos de Deus, Sua proteção, a prosperidade material e o sucesso ministerial quase sempre foram usados como ferramentas nas mãos do diabo para manufaturar o véu que separa o povo de Deus da pessoa de Deus e de Seu propósito.
O sucesso ministerial cega nosso entendimento quando a bússola que aponta o caminho certo não é mais a primazia do Filho de Deus, e sim nossa própria entronização e sucesso.
Nos bastidores do engano, os aplausos de homens cegos são as massagens de Satanás ao ego dos líderes que buscam reconhecimento e glória humanos.
A devastação como disciplina
Jerusalém não reconheceu o tempo de visitação de Deus, por isso foi destruída muitas vezes.
Quando não reconhecemos o tempo de Deus e andamos em nosso tempo, perdemos a Sua proteção.
Será que hoje sabemos discernir em que tempo vivemos e de que forma Deus está trabalhando?
No tempo de Jesus, os religiosos cuidavam de tudo referente ao culto, ao sacerdócio, às festas e ao serviço ao povo, mas não prepararam seu coração para receber o Filho de Deus.
Não escolheram viver e trabalhar para a glória de Deus, mas sim para satisfação pessoal por meio da religião.
Será que estamos discernindo que o Senhor está nos tirando tudo que roubou Seu lugar em nossa vida para nos atrair de volta para Ele?
Quando tudo se torna aparência, quando a obra de Deus se torna um sistema humano, liderada por homens, e não por Ele, Sua mão protetora se afasta e a devastação prevalece.
Isso também é o amor de Deus chamando Seu povo de volta para Ele.
Você percebe que Ele está fazendo isso hoje?
Precisamos de homens como Daniel
Estamos nos dias da culminação do propósito de Deus no tempo do fim.
Daniel dedicava tempo esquadrinhando as Escrituras para conhecer Deus e Sua palavra profética.
“… eu, Daniel, compreendi pelas Escrituras, conforme a palavra do Senhor dada ao profeta Jeremias, que a desolação de Jerusalém iria durar setenta anos” (Daniel 9.2).
Quando Daniel entendeu o espírito da Palavra para o seu tempo, então passou a interceder para a profecia se cumprir, para que a libertação do cativeiro do povo de Deus acontecesse.
Daniel tinha peso pela restauração de Jerusalém como o testemunho de Deus.
Devemos rogar a Deus que nos leve a nos aprofundarmos na Sua santa Palavra para entendermos a que hora estamos em Seu relógio profético.
“Guarda, a que hora estamos da noite? Guarda, a que horas?” (Isaías 21.11).
Quando Daniel intercedeu de acordo com a palavra profética, os céus se moveram, anjos trabalharam a favor da libertação do seu povo e houve o retorno a Jerusalém.
Nosso desafio no tempo do fim
Neste tempo, não podemos nos distrair ouvindo mensagem após mensagem.
Precisamos orar para termos a palavra profética operando com poder e unção para nos conduzir como um povo comprometido que coopere com Sua vinda.
Deus nos chama hoje para entrarmos em profunda oração coletiva, para que também se cumpra neste tempo do fim as profecias quanto à restauração de Seu testemunho, ainda que seja por um remanescente, como foi naquele tempo de Daniel, para que o Rei volte.
Lembre-se: Deus permitiu a destruição e cativeiro de Jerusalém porque o povo se apostatou do Seu propósito.
Não havia mais realidade espiritual.
Você já entendeu que Ele está nos chamando para adentrarmos num nível mais alto no lugar secreto da oração?
No entanto, não haverá ministério de oração corporativo se cada um de nós não cultivar uma vida de oração em secreto com o Pai.
Como bem discerniu C. H. Spurgeon: “Se formos fracos em nossa comunhão com Deus, seremos fracos em tudo”.
Foi em resposta à união da palavra profética com a intercessão que Deus levantou mestres da Palavra, como Esdras, profetas, como Ageu, Zacarias e Malaquias, e líderes com dons de governo, como Neemias, para a plena restauração de Sua casa.
Nestes dias, Ele deseja revelar Seus segredos para que sejamos, igualmente, Seus colaboradores na etapa final de Sua grandiosa obra.
Reconheçamos a urgente necessidade de voltarmo-nos a Deus e aos Seus caminhos.
Nossa falta de oração individual e coletiva pelo cumprimento do plano de Deus para este tempo simplesmente representa nossa cegueira espiritual.
Nosso maior problema não é falta de tempo para orar, mas sim nossa independência de Deus.
Arrependamo-nos do mau costume de ouvir boas mensagens que trazem contentamento, mas não produzem em nós profunda fome por Deus, arrependimento e vida de oração.
Foi porque o povo se distraiu ouvindo mensagens que os ligava ao deus contentamento, mas os afastava do soberano Deus santo, que Ele enviou Seu juízo.
Necessitamos conhecer, em realidade, o urgente chamado de Deus para estes dias e a importância da oração coletiva como resposta a esse chamado.
A revelação profética por meio dos ministros da Palavra gerará pressão para nos conduzir como Igreja à oração coletiva como um ministério urgente no tempo do fim.
É mediante esse nível de oração coletiva, como um ministério ungido, que as trevas serão dissipadas e os céus serão abertos para um poderoso reavivamento.
Que Deus nos ajude a ver que a maior falência de um ministério não é sua apostasia ou queda, mas ser bem sucedido em gerar atividades que conduzem os filhos de Deus aos enganosos estágios de satisfação, porém sem a transformadora presença de Deus; e é precisamente isso que significa estar na Babilônia.
Hoje, nosso desafio é garimpar na Palavra, como Daniel, para conhecermos os caminhos do Senhor em relação à responsabilidade da Igreja neste tempo do fim.
Somente assim haverá intimidade com Ele, o que nos transformará em intercessores que abrirão caminho para que Deus edifique a Igreja gloriosa que atrairá a vinda de Cristo (Efésios 5.25-27).
Deus avança por meio daqueles que Lhe oferecem caminho
Como a Igreja é o veículo da operação de Deus na Terra, o sinal de que estamos correspondendo de fato ao Seu chamamento é quando avançamos na responsabilidade coletiva em ouvi-lO, conhecemos Seus caminhos e cooperamos com Ele por meio da intercessão como um ministério.
Deus não conta apenas com indivíduos. Ele busca um povo que ande com Ele.
Se a espiritualidade individual de obreiros de peso não gerar a espiritualidade coletiva dos santos, então o alvo do ministério da Palavra está perdido (Efésios 4.11-12).
No deserto, aquela geração terceirizou para Moisés sua responsabilidade em ouvir Deus. Ela não esperou em Deus, mas em Moisés. Ela tinha uma controvérsia com Deus.
A fixação em líderes proeminentes e a terceirização de responsabilidade espiritual é uma sutil doença que gera um abismo entre o céu e a Terra. É uma controvérsia ao chamado do Novo Testamento para um reino de sacerdotes.
T. Austin-Sparks alertou: “Vemos que aqueles que habitavam em Jerusalém, e seus governantes e aqueles a quem representavam, não queriam resolver a controvérsia que Deus tinha com eles, e foram colocados de lado, e outra nação que produzia os frutos do Reino foi trazida. Que perda! E você pensa que o Senhor irá lidar conosco de forma diferente? Pode não ser a nossa salvação que esteja em jogo, mas certamente nossa vocação sofra alguma consequência”.
Oh, Deus! Ajuda-nos a conhecer Seus caminhos e capacita-nos a colaborar em Sua obra de restauração neste tempo do fim.
Gerson Lima
Este artigo foi publicado originalmente na Revista Impacto, edição 41, em 04/09/2011. Foi adaptado e ampliado pelo autor e revisado por Paulo César de Oliveira em meados de abril de 2020.
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